terça-feira, 7 de junho de 2011

Anorexia

Anorexia

A anorexia é um transtorno no comportamento alimentar com a distorção na auto-imagem corporal, sendo sua principal característica o medo mórbido de engordar e uma forma pervertida de realizar a restrição alimentar. O objetivo deste trabalho foi compreender os mecanismos de formação da imagem corporal na anorexia nervosa, bem como depreender os sentidos manifestos na construção da obesidade no corpo anoréxico. O caminho metodológico trilhado compreendeu a etnografia e o método biográfico, com a coleta de histórias de vida de anoréxicos. É um trabalho descritivo e interpretativo sobre a questão da imagem corporal na anorexia nervosa e, para tanto, dialoga com a Sociologia e com a Psicologia. Diante da análise do conteúdo dos depoimentos, nota-se que a construção da imagem corporal não é um trabalho solitário, mas resulta da intercomunicação entre o indivíduo e o mundo social. O indivíduo utiliza outras imagens para definir sua própria imagem corporal, bem como esse processo implica numa troca relacional entre indivíduos.
A Anorexia Nervosa é um tipo de Transtorno Alimentar que envolve "severas perturbações no comportamento alimentar" do indivíduo, sendo sua principal característica o medo mórbido de engordar (APA, 1994, pp.511-513). A sua incidência têm aumentado nas últimas décadas, especialmente entre as mulheres jovens dos países ocidentais (Dunker & Philippi, 2003, p.52; Hay, 2002, p.16). Dados epidemiológicos têm mostrado que a incidência média anual da anorexia nervosa na população em geral é de 18,5 por 100.000 entre as mulheres e 2,25 por 100.000 entre os homens (Hay, 2002, p.14).
Os relatos iniciais de um padecimento auto-imposto através da restrição alimentar datam da Idade Média e na época estavam relacionados a uma conduta religiosa de privação (Bidaud, 1998; Herscovici & Bay, 1997).
O médico William Gull foi quem atribuiu ao transtorno o termo anorexia nervosa, relacionando sua maior incidência entre as mulheres jovens e identificando, mais precisamente, alguns sinais físicos da doença (Herscovici & Bay, 1987; Robell, 1997; Turner, 1984). Na verdade, o termo anorexia nervosa seria inadequado, pois do grego an significa ausência e orexis apetite; todavia, não se trata absolutamente de uma ausência de apetite, mas da recusa consciente e obstinada do indivíduo em alimentar-se com o intuito de perder peso.
Em 1873, o psiquiatra francês Lasègue publica na França De l'anorexie hystérique e insiste na causa psiquiátrica da doença (Bidaud, 1998; Herscovici & Bay, 1987). Lasègue é o responsável pelo avanço no conhecimento acerca das distorções que a anoréxica tem de seu corpo, bem como sobre a negação da gravidade de seu estado. Lasègue observou que a doença era caracterizada por uma forma pervertida de realizar a restrição alimentar e atribuiu ao transtorno o nome de anorexia histérica. Lasègue observa que há uma condescendência verdadeiramente patológica da anoréxica com relação ao seu estado cadavérico, pois a anoréxica não deseja a cura, como também se regozija nas restrições que sua conduta lhe impõe (Bidaud, 1998).
Talvez Charcot, na publicação Disorders of the nervous system, datada de 1889, em Londres, é que tenha reconhecido a característica psicopatológica central da anorexia: a idéia fixa da obesidade (Bidaud, 1998; Cordás & Claudino, 2002; Turner, 1984). Posteriormente, na França, em 1895, Freud & Breuer, nos trabalhos sobre a histeria, contribuem também ao estudo da anorexia, relacionado-a a uma síndrome histérica (Turner, 1984).
Os conceitos psicanalíticos influenciam até hoje na explicação da doença, mas são os estudos de Hilde Bruch que conferiram avanços do ponto de vista da psicopatologia da anorexia nervosa. Bruch destaca que a anoréxica faz uma distorção de sua imagem corporal, aliada a uma dificuldade em interpretar os sinais de necessidade do corpo e uma sensação de ineficácia (Cordás & Claudino, 2002; Herscovici & Bay, 1987). Para Hilde Bruch, "a recusa franca de se reconhecer doente e a ausência de angústia diante de um emagrecimento freqüentemente macabro dão o último retoque ao perfil clínico" (Bruch, citado em Bidaud, 1998, p.24).
O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, em sua quarta edição, (DSM-IV – APA, 1994), que contém desde as primeiras definições de Lasègue e Gull até as discussões mais recentes, apresenta as características diagnósticas da Anorexia Nervosa, como: "(...) a recusa do indivíduo a manter um peso corporal na faixa normal mínima, um temor intenso de ganhar peso e uma perturbação significativa na percepção da forma ou tamanho do corpo. Além disso, as mulheres pós-menarca com este transtorno são amenorréicas (...)" (p. 510). As anoréxicas experimentam a dismorfia corporal, uma excessiva inquietação com algum aspecto de sua aparência, que pode ser irreal ou real (no caso de ser real, é desproporcional), e que gera grande sofrimento.
Algumas vezes esses indivíduos podem se dedicar a realização de exercícios intensos para queimar calorias e perder peso, e adotar métodos purgativos como a auto-indução do vômito e abuso de laxantes ou diuréticos.
O DSM-IV (APA, 1994) descreve dois subtipos de anorexia nervosa para distinguir a presença ou ausência de compulsões periódicas ou purgações regulares durante o episódio atual de anorexia. O tipo restritivo é quando o emagrecimento ocorre em virtude de dietas, jejuns ou exercícios em excesso. O tipo compulsão periódica purgativa ou bulímica ocorre quando o indivíduo dedica-se regularmente a purgações que incluem vômitos auto-induzidos, abuso de laxantes ou diuréticos durante o episódio atual de anorexia nervosa.
O pensamento constante do medo de engordar não é aliviado pelo emagrecimento, mas, ao contrário, freqüentemente, na medida em que o sujeito diminui o peso, aumenta o seu medo de engordar. Esses indivíduos apresentam uma distorção da sua imagem corporal de tal forma que, mesmo extremamente magros, podem avaliar-se "gordos", ou ainda, sentirem-se magros, mas permanecendo preocupados com partes "gordas" de seu corpo. O peso corporal é altamente valorizado, sendo a perda de peso apreciada e julgada como uma extraordinária conquista e uma formidável demonstração de auto-controle.
Este estudo teve como objetivo compreender os mecanismos de formação da imagem corporal na anorexia nervosa, bem como depreender os sentidos manifestos na construção da obesidade no corpo anoréxico. É um trabalho descritivo e interpretativo sobre a questão da imagem corporal na anorexia nervosa e, para tanto, dialoga com a Sociologia e com a Psicologia. Discute-se como se dá a construção da obesidade no corpo anoréxico e das imagens que a anoréxica constrói acerca do seu corpo.

Ge Crüe.

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